Pegamos Corona e agora?

Aqui em casa somos em três pessoas, eu, meu irmão e minha mãe. Eu surtei no começo da pandemia, pois meu maior medo era que alguém que eu amasse muito pegasse esse vírus. Não demorou nem duas semanas depois de decretado quarentena em São Paulo pra pessoas do meu convívio social serem infectadas, eu surtei, briguei com minha mãe para que ela se protegesse, fui chamada de louca, pessimista, extremista e tudo mais quando dizia que esse vírus não era brincadeira e que manter distância e não dar beijo não era suficiente para se proteger e então, depois de alguns dias, minha mãe começou com alguns sintomas estranhos, mas não divulgados pela mídia como podendo ser COVID-19. Nos primeiros dias ela ficou muito rouca, com nariz entupido e perdeu totalmente o olfato e paladar, achei muito estranho, perguntava de duas em duas horas como ela estava se sentindo, e a resposta era sempre a mesma: “Bem, deve ser alergia de algum produto de limpeza que passaram no escritório.” Eu não me convencia muito, mas se ela falava que estava se sentindo bem e não apresentava nenhum dos outros sintomas divulgados, eu aceitava. Passaram-se 4 dias desse jeito, eu não aguentei e comecei a procurar mais informações, ligar pra pessoas que já estavam diagnosticadas com covid-19 e veio a frase: “não estavam dando atenção pros meus sintomas no PS, só quando falei que não sentia gosto e cheiro que o médico me escutou, pediu os exames e fiquei internado, não sentir cheiro e gosto é sim sintoma de CORONA”. Nesse momento, meu coração deve ter parado por milissegundos, o maior medo que eu tinha na atualidade estava se concretizando.

Nos dias seguintes minha mãe se ausentou do trabalho e ficamos isolados em casa, os sintomas foram ficando mais fortes, as dores no corpo eram insuportáveis e só passavam com remédios, a temperatura baixou, sim BAIXOU (isso também é um sintoma pouco divulgado!), a sensação de cansaço era visível, mesmo ela querendo disfarçar pra não preocupar ainda mais eu e meu irmão.

Minha mãe é uma pessoa teimosa, com todos esses sintomas ela não estava convencida que era COVID-19, conseguiu agendar para fazer exame em um laboratório particular, foi lá, fez, ficou pronto depois de 3 dias e o resultado, assim como o esperado, foi positivo. Os médicos passaram todos os cuidados e falaram que eu e meu irmão também poderíamos estar infectados e precisaríamos ficar em isolamento total.

A doença evoluiu aqui em casa e não tivemos complicações, agradeço todo dia por isso. Encarei de frente o que me assombrava e hoje já passou, mas parentes muito queridos precisaram ficar internados e a angustia era enorme e além de todo esse sofrimento, ansiedade, medo, insegurança, precisamos lidar com os julgamentos, no grupo do prédio fomos vistos como o próprio vírus praticamente, o medo e o egoísmo das pessoas falavam mais alto, ninguém queria saber muito como estávamos, se precisávamos de algum coisa, as mensagens era sempre de “mas eles estão isolados? meu marido é transplantado, não pode pegar de jeito nenhum” ou “eles não estão usando o elevador, né?” e coisas parecidas.. óbvio que os amigos e os familiares mandavam mensagens de carinho, amor e cuidado, mas os desconhecidos esqueciam que não escolhemos pegar a doença e, por certo lado, é compreensível essa postura, por mais triste que seja.

Nesse momento, a cabeça vai a mil, temos o trabalho que continua, as aulas que permanecem online, os professores passando mil atividades, e onde está nosso foco? no medo, na ansiedade. Eu me senti muito sobrecarrega e sem forças, o medo queria tomar conta, mas eu precisava ser forte, cuidar da minha mãe, da casa, ajudar meu irmão e fazer tudo que eu já costumava fazer, a saúde mental mandava lembranças de um lugar muito distante.

Agora já estamos voltando a nossa rotina de quarentena, nossos trabalhos são considerados como essenciais então mesmo conseguindo fazer home office por alguns dias, algumas tarefas demandam a presença física na empresa.

A angustia de querer que tudo volte ao normal é gigante e a tristeza de ver as ruas vazias assustam. Eu poderia dizer que o pior já passou, mas não, o medo da doença continua, mesmo estando imune como estão dizendo, será que estou mesmo? e se estou tem data prevista pra acabar ou é pra sempre? são perguntas que as respostas não me convencem e tem a questão financeira, que talvez seja até mais indefinida e preocupante.

Hoje, li algumas notícias um pouco desanimadoras sobre a previsão do vírus no Brasil e no mundo, em contrapartida, vi que temos vacinas sendo testadas e esse seria o caminho mais promissor. Espero que os resultados sejam positivos e achemos uma imunidade.

Com certeza não somos os mesmos de Janeiro de 2020 e não seremos os mesmos em Janeiro de 2021, as coisas estão mudando em uma velocidade enorme no momento que a impressão é de paralisia. As percepções mudaram e tudo é incerto, mas precisamos continuar.

Desejo saúde, sensatez, calma e solidariedade pra todos nós, alguns já passaram pela doença, outros estão passando e muitos outros ainda vão passar, mas tudo vai ficar bem, nada é para sempre e, como já dizia Viktor Frankl, o que nos traz sofrimento permite a superação e desenvolvimento.

Me encontro aberta pra conversar, pra entender como está sendo esse período pra você, trocarmos experiências nesse momento é muito libertador.

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